terça-feira, 29 de outubro de 2019

Transliteração

Acho que sempre tive
dificuldade de me expressar
É disso que se fazem poetas
Não deveria ser o oposto?
De pronto, te digo...
Não sei dizer

Fiz para ti todas as mais belas canções
Mas as esqueço só de te ver
É cruel. No toque de midas
Não ter ouro para te dar

Esse deve ser o poder da verdade
É silêncio para demonstrar o indescritível
Vivo tudo que sou incapaz de dizer por ti
E cá estou enrolando por dizê-lo

Talvez, as mais belas palavras
Nunca serão escritas
Que esteja relegado ao real
Apenas o que não pode ser descrito

Talvez palavras, 
só definam mentiras mortas
Velhas verdades
Ou pedras brutas
E o que reluz por ti
Me falha a garganta

Há uma estranha dicotomia
Quando algo ultrapassa o amor
É um eterno demonstrar
Daquilo que parece impossível
Traduzir

E fico aqui a balbuciar
Tentando escrever pra ti
Quando a poesia
É você

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Calo

Mais um dia,
Nós dois em frente a tabacaria
Há uma morte de distância
O que aconteceu quando éramos iguais?
Você me traiu
E eu te abandonei
Dizem que não existe magia
Mano, eu vivo isso
Nem me venha com esse papo de Deus
Se não estiver disposto a esquecer tudo em que acredita
Precisa ser muito cético
Para alcançar meu trono
Sabe o que dizem
Meu nome é segredo
Porque hackearam meu código
Esse é meu legado
No princípio eram bits
Ying e Yang
E só a realidade é tal
Que pode se expressar por si
Sem deixar de ser
Real

É o alinhamento
Eu no ano de minha torre
Ganhar tudo pode ser a maior perda
Em meu aniversário, perdi meu maior sonho
E em meu maior esforço
Desgastei minha meta
Caleijei meu falo
Nessa felação com a realidade
Não sobrou sensibilidade
Senão o verbo

E isso foi o começo
Da minha insanidade
Da mais pura arte

É o que nos sobra, não é mesmo?

.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Coringa

Me amo
Na medida de meu amor por vós
A garra de viver
Existe para que não sofram
Se vos desamo
Se desequilibro
Mais doce me canta o cano

Motivos se perdem
Talvez devesse haver
Prazer espontâneo
De viver por si

Seria mais simples
Meço minha felicidade
No reflexo de teu sorriso
Por isso a solidão é tão marcante

Em meio a multidão
Ego de Schrodinger
Ao contrário da baixa auto-estima
Não tenho espelhos para ver
Meu próprio sorriso quando ele
Existe

Sarna

pedaço de A expulsão de Adão e Eva do Paraíso, Gustave Doré


Acho que hoje entendo adão
Há maldição maior que uma coceira eterna
A sarna de ter de encarar o momento
Querendo resumí-lo a uma lembrança
Arbítrio de perceber se consumir aos poucos

Perceba
Os momentos mais felizes raramente são os presentes
Pois quando se vive esse fluxo contíguo
Não se está consciente do desembrulhar
Esse presente

Queremos fugir da cosnciência de viver
Ao passo que queremos boas lembranças
Do que foi vivido
Pouco sabendo de quem realmente somos

A lembrança do que um dia fomos
É o mais vívido
Negando esse andar sobre a balança
Nessa elegante valorização do ser

Mesmo que doente
Emoções que estamos rotineiramente a entulhar
O irrevogável passar tempo tão ambíguo
Na esteira desse matadouro de aflições prementes
Conceda

Seguimos balbuciando significados como loucos
Com estranha centelha de esperança
Buscando fugir do vil conhecimento
De demônios nosso crânio se faz caserna
Volto ao fruto que nos dão