quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

realidadeCadência

Roberto Ferri


sou eu ou sou a arte?
tenho substância enquanto vivo
ou vivo apenas enquanto
a morte se faz substância?

me faço na construção de meu intento
porém me desfaço na paz e me reinvento
de que vale a poesia dos vales sombrios
perante a dualidade de um sentido pleno?

me faço enquanto faço
queria mesmo é me desfazer
não precisar sentar e sangrar
em frente a máquina de escrever

espero, não; almejo
queria poder dizê-lo
mas a verdade é que
não tenho para quem dizer

tais letras de cores rubras
escorrem sem sentido
por entre as engrenagens
da tão imperfeita máquina

o som de cada tec marca o tempo
gera um vácuo do desperdício
gera uma matéria de aproveitamento
mas ainda se faz,
sem me deixar ser

sou enquanto destruo
tanto quanto quando crio?
a perspectiva do que consegui
soa nada mais que o eco das perdas
sons não proferidos
e mais marcas deixadas

constante se faz a vontade
de dizer aquela maldita palavra
enquanto faço rodeios
por não ter flechas em minha aljava

ritmo inconstante das teclas
me perdendo no compasso
sempre no momento errado
atrasado, pé atrás de pé
a cada passo

um sacrifício sem deuses
votação sem eleito
realidade em prisma
sonho desfeito

faço
finjo
ajo
crio

nada

   

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Insomnia

Edward Poynter - The Nymph's bathing place

Logo tu, 
Tímida caçadora de Ártemis
Com teus banhos proibidos escondendo uma beleza pura
Apesar da ferocidade de um disparo de arco e flecha

Oh ninfa de tão belo e profundo lago
Se banhando na seiva láctea do brilho eterno da lua
Refletido sobre a superfície de tua macia pele de seda
De cabelos e olhos escuros como o cosmos a noite, 
Mas com um brilho vívido amadeirado da floresta
Os mesmos dedos firmes que apontam a seta mortal 
Se movem suaves por entre as ondulações do cabelo molhado
Diana te abençoa sob o reflexo de suas águas

Quando vês estás nadando na própria lua encarnada em tua graça
Se fazendo una com tal beleza estonteante
A graça de teus movimentos cria marés, 
Teu corpo sobre a superfície gera ondas 
Que são ecos de teu toque sutil
Alcançando as areias de oníricas praias
E como move teu corpo com suavidade!
Parece levitar por entre as estrelas encantando com teu brilho celeste
Antes fosse tão próxima quanto se faz parecer

Ao me devorar com tua iluminada presença, ouvem-se apenas uivos
Te toco com muito esforço com o prolongamento de um sentimento
Através da vibração de encantadoras notas
Melodias geradas pela influência de tua gravidade, 
Que vibram as cordas da harpa das emoções
Afinal, o que poderia um sátiro perdido na floresta
Ter com tua presença intocável? 
Distante e ao mesmo tempo tão marcante

Talvez não seja a lua, 
Talvez seja um reflexo, 
Talvez seja ilusão...
Oh céus, tu és a lua!

E em teu nome canto uma canção, 
Te puxo dos céus com um laço de versos
Te faço matéria, de carne, osso e alma novamente

Caminhas então no mundo terreno longe das nuvens
Mas a lua, ora, a lua nunca saiu de ti

 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Sweetheart


"Baby, I see poetry in your lines,
I feel colors in your curves,
I hear melody in your soul"
  

sábado, 11 de janeiro de 2014

Você


Todos estão sempre querendo
Mais do que se fazem querer
E nem sabem o que querem
Queria que entendesse
Simplesmente apenas quero
Alguém que me queira
Porém queira quando quero
Veja bem, não digo de momento
Dando importância apenas
A qualquer querer meu
Quando te quero
Só quero que me queira
E isso só me faz querer mais
É uma questão de alinhar os quereres
Quer queria o que isso queira dizer