segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Possuída



Dançamos.

Te trago a minha terra, entre o fogo daqueles iguais a tu. E dançamos. De corpos colados em movimentos firmes, dançamos com postura, com precisão. Te conduzo por movimentos suaves e bruscos, ao ritmo dos estalos da chama. O piano toca sozinho e o baixo acompanha. Lá em baixo estamos. A curiosidade te trouxeste aqui, e não se arrependes. De face colada uma a outra dançamos segurando cada qual uma ponta de uma lâmina. A gilete entre nossos dentes dão o clima da tensão. Não podemos errar os passos, não podemos largar até que a música acabe.

Ao som da última nota tu sorris, soltando a lâmina, que então brinco com minha língua. Em um giro de bailarina percebes que nos encontramos em teu quarto. As cortinas estão em chamas, o papel de parede queima como embrulho de presente, daquele seu natal perdido. Da janela aberta se vê apenas o breu absoluto de uma madrugada coberta pelo véu da fumaça. O calor do quarto disfarça até a frieza de meu sangue sob a pele ardente. Sem demora as paredes já são barreiras de fogo incandescente, produzindo um manto negro que flui pelo teto. Não é pelo calor, mas já estás derretida. Deitada, observa com olhar sonolento enquanto manejo a lâmina com precisos cortes, deixando-a nua.

Jogando a lâmina de lado, escorrego meu corpo até meus lábios tocarem os teus. Com o peso do meu corpo sobre o teu e minhas mãos te envolvendo, já estás totalmente entregue a possessão. Que se dá lentamente, enquanto meus lábios tocam todo o seu corpo, parte por parte. Logo, em minhas mãos se encontra uma corda negra e teus olhos brilham. Peço que fique de joelhos. A textura áspera da corda desliza suavemente sobre corpo, dando voltas e pressionando pontos específicos. Te deito de costos para cima, e intercalando entre beijos e mordidas, prendo tuas mãos e pés. Totalmente subjugada, agora estás pingando; não só de suor.

Te meço e avalio, com uma vara de cane em mãos. Tua alma possui muitos pecados para expurgar, e como um caído, servirei devidamente à meu propósito. O primeiro acoite é bem forte, aproveitando enquanto não está com a carne dormente. Os golpes subsequentes distribuem bem a dor, por toda a tua bunda. As marcas ficam evidentes e sua virilha se mantém contraindo pedindo pelo alívio. Sentes seu cabelo ser puxado, ao mesmo passo que algo desliza para dentro de ti. Uma lágrima de alívio e prazer lhe escorre pela maçã do rosto, segue pela mandíbula e desliza pelo pescoço. Dedos firmes envolvem seu pescoço enquanto sentes impactos rítmicos no quadril. As beiras da cama começam a pegar fogo, mas é em ti que arde algo. Teu quadril se mexe involuntariamente, tua coluna se contrai e uma explosão de prazer te deixa a ter contrações por todo o corpo.

Nos noticiários do dia seguinte foi anunciado um estranho caso de combustão espontânea.

.