terça-feira, 4 de agosto de 2020

Yndesejável

aprendi desde cedo a ser um estorvo
olhares que incomodam
presença que desagrada
maldito por nascença
beneficiado pela história

tenho de herança a opressão
em minha pele marcada, a cor do ódio
de demônios internos
meu sexo me traz meu lugar de fala
no suicídio e assassinato

sem lutas ou conquistas
sem palavras, que queiram ser ouvidas
entre o tentar ajudar, e o tomar espaço
apanho dos dois lados

tal como serpente
no banheiro feminino
tal como uma cobra
em baixo das cobertas

profano por essência
nocivo, mesmo sem querer
conseguindo somente ajudar
destruindo
o que um dia eu poderia ser

.

domingo, 17 de maio de 2020

Apoema

Todo poema
me parece mais
verdadeiro
quando nega a si mesmo

Não à toa
o maior medo
se encontra no
indizível

Lá se encontra
qualquer sentimento
tão grande
que a linguagem
é incapaz de conceber

Quase todo poema
de amor é falso

Geralmente só
cabem aos versos
paixões efêmeras

Como poderia
pôr em versos
o que sinto?

Como vou resumir
em meros parágrafos
aquilo que
para cada palavra
demorei livros
para entender?

Como haveria de
dizer em segundos
o que li anos
em mim mesmo
sentindo por
você?

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Transliteração

Acho que sempre tive
dificuldade de me expressar
É disso que se fazem poetas
Não deveria ser o oposto?
De pronto, te digo...
Não sei dizer

Fiz para ti todas as mais belas canções
Mas as esqueço só de te ver
É cruel. No toque de midas
Não ter ouro para te dar

Esse deve ser o poder da verdade
É silêncio para demonstrar o indescritível
Vivo tudo que sou incapaz de dizer por ti
E cá estou enrolando por dizê-lo

Talvez, as mais belas palavras
Nunca serão escritas
Que esteja relegado ao real
Apenas o que não pode ser descrito

Talvez palavras, 
só definam mentiras mortas
Velhas verdades
Ou pedras brutas
E o que reluz por ti
Me falha a garganta

Há uma estranha dicotomia
Quando algo ultrapassa o amor
É um eterno demonstrar
Daquilo que parece impossível
Traduzir

E fico aqui a balbuciar
Tentando escrever pra ti
Quando a poesia
É você

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Calo

Mais um dia,
Nós dois em frente a tabacaria
Há uma morte de distância
O que aconteceu quando éramos iguais?
Você me traiu
E eu te abandonei
Dizem que não existe magia
Mano, eu vivo isso
Nem me venha com esse papo de Deus
Se não estiver disposto a esquecer tudo em que acredita
Precisa ser muito cético
Para alcançar meu trono
Sabe o que dizem
Meu nome é segredo
Porque hackearam meu código
Esse é meu legado
No princípio eram bits
Ying e Yang
E só a realidade é tal
Que pode se expressar por si
Sem deixar de ser
Real

É o alinhamento
Eu no ano de minha torre
Ganhar tudo pode ser a maior perda
Em meu aniversário, perdi meu maior sonho
E em meu maior esforço
Desgastei minha meta
Caleijei meu falo
Nessa felação com a realidade
Não sobrou sensibilidade
Senão o verbo

E isso foi o começo
Da minha insanidade
Da mais pura arte

É o que nos sobra, não é mesmo?

.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Coringa

Me amo
Na medida de meu amor por vós
A garra de viver
Existe para que não sofram
Se vos desamo
Se desequilibro
Mais doce me canta o cano

Motivos se perdem
Talvez devesse haver
Prazer espontâneo
De viver por si

Seria mais simples
Meço minha felicidade
No reflexo de teu sorriso
Por isso a solidão é tão marcante

Em meio a multidão
Ego de Schrodinger
Ao contrário da baixa auto-estima
Não tenho espelhos para ver
Meu próprio sorriso quando ele
Existe

Sarna

pedaço de A expulsão de Adão e Eva do Paraíso, Gustave Doré


Acho que hoje entendo adão
Há maldição maior que uma coceira eterna
A sarna de ter de encarar o momento
Querendo resumí-lo a uma lembrança
Arbítrio de perceber se consumir aos poucos

Perceba
Os momentos mais felizes raramente são os presentes
Pois quando se vive esse fluxo contíguo
Não se está consciente do desembrulhar
Esse presente

Queremos fugir da cosnciência de viver
Ao passo que queremos boas lembranças
Do que foi vivido
Pouco sabendo de quem realmente somos

A lembrança do que um dia fomos
É o mais vívido
Negando esse andar sobre a balança
Nessa elegante valorização do ser

Mesmo que doente
Emoções que estamos rotineiramente a entulhar
O irrevogável passar tempo tão ambíguo
Na esteira desse matadouro de aflições prementes
Conceda

Seguimos balbuciando significados como loucos
Com estranha centelha de esperança
Buscando fugir do vil conhecimento
De demônios nosso crânio se faz caserna
Volto ao fruto que nos dão

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Voltas



O caminho do amor é uma rotina, uma persistência para além do combustível da paixão. Me pego no automático, caindo no retorno pro seu coração. Voltando sempre, pelo caminho pavimentado de nossa relação. Sabendo que irei voltar, uma vez mais, até um dia por aí ficar...

.


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A Vida... Aquela

Roberto Kusterle

- A vida é bela
 Pois eu a vi, que bela!

- Não se deixe enganar
Tal beleza já me iludiu
Esplendoroso sorriso
De sádico coração
A vida é uma puta
E cobra caro
Por um pouco
De emoção

- Mas meu caro
A vida é uma disputa
A vida é curta
Curta a vida
Pois é bela
E não há desculpa

- Veja bem
A beleza é um dos anjos mais cruéis
Nos tira a defesa
nos faz acreditar na pureza
Que é breve,
enquanto nos faz pulsar
A vida é longa,
com brevidades no caminho
Conquiste suas próprias belezas,
mas as cultive sozinho
Pois a beleza nos é indissociável
Um lapidar do olhar de nossas almas
um recorte em cada fatia
Como o amor que sentimentos
Mesmo sofrendo
por essa vadia

(...)



Trecho de um freestyle; Coautoria:
Rafael Levi & Giovana Arantes
2014


-

quarta-feira, 27 de julho de 2016

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Cosmos

Milky Ways - Breath, Mihoko Ogaki

Compreendo
a mim mesmo
Lendo todos
os signos

Da órbita celeste
no universo do
meu ser

Algo entre
a curvatura do céu
e a órbita de meus olhos

Algo entre
o encontro de meu reflexo
e a deriva nas sombras

.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Esvaindo

Skool daze - Paul Brown


Algo  se perdeu no cam nho
D s átomos que um d a fui
Não me s bram nem mes o um
O que me co stituia, fazia-se pleno
N  entanto ag ra me perco s reno
Simpl smente nã  sei quem e a ou
Quem s u; qual camin o seguir
Ou o qu  rec perar do q e sobr u
Sinto-m  esv indo, sem dei ar traç
Logo ser i po co, um des mbar ço
Men s d  q e  s u, me os do que fu
V z u, sem s bstâ cia, s m pal vr s
P rdi o no q   nu ca f i, e no q e n o ser i
At  ão  s r ma s n d
S  é  u   m d  a f  i

.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Adição

Temples #2 - Robert Gaudette
Acredito existirem céus;
As vezes vendes me visitar
Quando não sou eu que vos procuro
Encontrando-os em vosso olhar
Atroz é ter de lidar posteriormente
Com os infernos aquém e além

A noção obscura que há,
Assim como o exagero,
Do mau do mundo e de mim mesmo

Tal como a melhor das drogas,
Me afasteis de meus círculos internos
Com vossa estada paradisíaca

Insólita presença, qual absoluta
Pois sois muito mais que uma
Ainda mais quando a mim vos una
Na totalidade de aspectos
Me inunda

Uma certeza me assola
Que de tão sublime consonância
Perdê-la-ei sem azo revindo

Se faz ser pelo viés da ilusão
Mas não me importo, ou tento
Aprecio a poesia do momento

Apenas me contemple
Noutra dose das brandas
De vosso viciante sorriso
Aceita comigo minhas sombras
E vendes com elas dançar

.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Breve

"Forgetting Is the Only Continuum"- David Regen; foto por Mel Bochner's,  Gladstone Gallery

Decidi escrever para ti
Que nunca fora poema
Já evitando a dúvida:
Não lhe é por pena

Sendo assim, por respeito

Acalma, criança
A dor que lhe pesa o peito
Acalma tuas expectativas
Pois são de tua autoria

Acalma, criança
Tuas ânsias imaginativas
Não transformes brevidade
No martírio de uma vida

Aceita, criança
Que a metafísica de teu mundo
É puramente tua, e some
Se quiseres; em um segundo

Aceita, criança
O futuro que lhe espera
Abandonando o cadáver natimorto
Nunca fora; seja contigo sincera
Senão o que querias que fosse

 Não cries âncoras em penas
Fora leve por traço do destino
Sem promessas ou compromissos

Se lhe negam o que ofereces
Não conseguirás o mesmo efeito
Atirando-lhes os pedaços
Persistindo no que não tem jeito

As vezes nos entregamos 
Ao que gostaríamos que fosse
Sem enxergar tudo o que não foi
Sobrando amargor, contanto fora doce

Então acalma
Não atires pedras no espelho
Por ouvires mentiras de si mesma

Então aceite
Porque o mundo é um moinho
E nas voltas das incertezas
Terás novamente os pés no chão

Te desejo então, criança
Que encontre nos versos que diz
Novos encantos; Algo que,
Conquanto
Esquecendo o passado
Abandonando teu pranto
A faça feliz

 .

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Sabores

Original: Sushi Mermaid, por Roberta Oriano 

Sempre tive gosto pela culinária japonesa
Porém teu sabor ampliou meu paladar
Despertou-me sensações jamais sentidas

É de toda completa, deveras equilibrada
De apreço estético na apresentação
Leve de se provar, com suave crocância

Tuas poucas palavras são al dente
Recheadas com emulsão de sinceridade
Acompanhadas de suculentos beijos
Temperado nos mais belos toques

Poderia apostar que jogaram a receita fora
Absolutamente única em sua composição
No encontro de nossos paladares
Harmonizamos perfeitamente

.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Azedume




No dia que entreguei meu coração
Mostrei meus dentes afiados
Não se deve dar um presente
Com receios amargos

 Ao invés de um doce sorriso
Errei por deixar um tom azedo
Contradizendo meu próprio sentir
Me entregando de súbito ao medo

 O sorriso que me encanta
Roubei sem o menor zelo
Comportamento que me espanta
Não pretendendo voltar fazê-lo

 A covardia nos transforma
Nos faz correr riscos sem benefícios
Corrompendo a forma sem sacrifícios

 Por entre os rabiscos desse paraíso
Quase acabei com o encanto
Porém uma coisa garanto
Com minhas dúvidas, terei mais juízo

Já não só acho
E sei que é tanto

.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Têmpera

Embrace Impermanence - The Pier Group (for Burning Man festival)


Só a paixão para tal
de tão rígido
converto-me em líquido
metal abrasado
por tua incandescência

Quero ser
o que tu desejares
dentro daquilo que
já sou

Não, não mudo
por nada, por tudo
mas sou muitos
muitas palavras

Me compres
e escolha o produto
que mais lhe agrada
no mercado de minhas
complexidades

Entre meios
sou caminhos

potencialidades
sou escolhas

maquiavelicamente
tendo a ti
como fins

pois
Tu justificas
tudo aquilo
que posso ser

Minha desculpa perfeita
meu combustível ideal


.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Disruptura

Feeling Material - Antony Gormley 


Momento catártico, libertação,
No voo, no vou, apesar do fui
sangria que é a alma.
Se é que há'uma

Quando já não nos importamos
com nossa própria estranheza
perante nós mesmos. O mesmo.
Mergulho sem fim
enfim

Mais bela âncora de chumbo
Adentramos uma nova atmosfera
acelerando segundo por segundo
Estrela cadente
ardendo na chama da vontade;
à vontade

Transformamo-nos
ainda mais singulares
em uma cadência vibrante
até alcançarmos
a verdadeira essência;
Insistência

Num distanciamento
da realidade em cimento
nos coroamos mais reais
do que as ilusões de realidades
mais verdadeiras.

Peculiares;
Perdemos o tato com os códigos,
sujando as mãos com o construto
de uma nova codificação.

Do alto da montanha, somos lunáticos
dançando ao ritmo de uma música
que ninguém mais houve
até que os façamos ouvir
para que se faça haver

entre o autêntico e o louco
Assumindo sua inexistência
do que fora, de fora;
o que virá a ser,
de nosso
ser

Eterna prática
de uma existência
essa ciência
poética
para além das próprias
fronteiras

há quem?

para aquém

de si?

.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Crime Passional

Kiss dont kill - Banksy


Antes fosse
Roubo
Mas foi assalto
A mão
Amada

Era se entregar
Ou morrer arrependido

Foi golpe,
Armadilha.
Prometeu sorrisos
Acabou por me tirar
Até os beijos

Me deixou sem nada.
Fazendo tudo
Na maior calma
E ainda vandalizou
Pixou seu nome
Em minha alma


.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Idiossincrasia humana


amar faz todo sentido

sentir

por que,
me sinto verdadeiro
na mAis ardilosa mentira?
não há transparência maior
que o cinisMo
as maiores falsidades
são: educação e bondade
não choramos por sentir
mas pAra que não saibam
que não sentimos
persistimos disfaRçando
verdades que ambos sabemos
amenizando as dores do jogo
organizando o caos
caos
pintando o ruído
com sons aritmÉticos, éticos
nessa lúdiCa guerra de realidades
todos sabem a verdade
ignorância nada mais é
que o deliberadO ato
de ignorá-la
nos iMpor através de inverdades
a hipocirisia é um dos mais belos
atos de humanidadE
assumí-la, quebra toda a magia
então eu minto
minto que sou hipócRita
sendo o mais honesto
em minha hipoCrisia
entende?
não
não estou ficando louco
talvez você que delire
com o conceitO de sanidade
arranhe a luz para se fazer ouvir
de som opaCo e nenhuma textura
sem os sabores brilhantes
ou o cheiro do sol
nesse quarto vazio
ecÔo
acolchoado pelo colo dos anjos
não ouve as vozes
não percebe os gritos
não vê as sombras
na verdade você nem existe

já te falei sobre a verdade?


.