quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fendas

M.C. Escher - Covered Alley in Atrani, 193


Eu sei reconhecer pessoas amargas, ou melhor, amarguradas.
Esse leve toque cítrico que me desperta curiosidade, me atrai.

Café.

Sempre vi as pessoas como o mais transparente dos cristais,
mesmo que me vejam como uma turva imagem onírica sem muito nexo.

Disforme.

Acho que seja o natural, procurar semelhantes.
Alguém que conheça das mesmas dores,
que entenda de provações semelhantes.
Talvez em uma tentativa de me entender,
compreender o ser que está refletido nos outros.

Pessoas com os olhos que,
ao se encontrarem aos meus,
fazem até eco de tamanha profundidade.
"Se você encara o abismo por muito tempo..."

A batalha dos olhares é um desafio de empatia:
Até que ponto você pensa me entender?
Não sei, mas não me canso de tentar saber.

As pessoas podem esconder da forma que quiserem,
eu vejo as feridas através dos panos.
E isso mexe comigo, a mente é um labirinto,
porém eu não fico procurando a saída.

Reparo nas ranhuras nas paredes.
Tudo que passa deixa uma marca, um rastro.
Muitos nem notam, mas eu tateio no escuro,
e tento sentir a profundidade de cada fenda.

Jogo uma tocha no penhasco escuro,
e me vejo pegando a mesma tocha lá no fundo.

Talvez seja apenas eu me projetando nos outros até achar a forma correspondente.
Mas nada corresponde ao que se passa em minha mente.

.
     

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Not even a bang



The black hole of creation
Destruction to generate
Fear that shapes the love
Purifying agony
The great mix from an explosion
Scream in silence
Total consummation for renovation
Putting all elements together
Draining every energy
Absorbing the soul
Feeding the chaos
Reshaping the order
But what is being in a invisible place,
Where even the light can't pass through?
 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Farol de Alexandria



Quão vazia é uma mente que se fecha a tudo que pode entrar com medo de mudar...

Novas informações sempre são boas, novas idéias, novos argumentos, novos dados, novos conceitos, novas perguntas
Achar que pode existir um quebra cabeça de uma peça só
Crer que o que se sabe responde a tudo, e para cada lacuna forçar a forma oblíqua
Fazer tudo se ajustar ao que pensa e não o contrário
Limitar o próprio universo e sua compreensão do mesmo
Não querer aproveitar o sabor do mistério, a diversão da pesquisa
De cada lapidada no mármore bruto que é nossa visão de mundo
Cada acrescento na receita alquímica do conhecimento
Sem medo de dosar o negativo
Ouvir as críticas e colocar a prova a firmeza do muro construído
Do templo erigido a partir das idéias
Não ter medo de testar seu argumento contra os que vivem sobre uma fortaleza de certezas
Descobrir suas falhas de raciocínio
Trocar cada bloco falho por um novo mais sólido
Formar uma torre que te permita ver mais além
Ver mais além no espaço e no tempo
O que está além
O que pode vir
O que ficou para trás
Ligar os pontos
Tecer a trama
Mas não deixar nenhum nó que não posso ser desfeito
Para se refazer se for errado
Sempre aprimorar as ligações
Queimar e recriar caminhos para os neurônios
Adicionar filtros e mais filtros, lentes e mais lentes
Ver não só além, mas também mais profundamente
Mais perto
Com mais precisão

Ainda assim todos preferem alucinógenos, repostas fáceis e confusas para não ter que entendê-las e assim manter-se seguro em seu frágil abrigo, porém grande, monumental, com todos segurando suas paredes para não cair. Uma estrutura de massa humana, com medo de soltar e o teto cair-lhe sobre a cabeça. E esse abrigo não possui janelas, não podem visualizar a incerteza, a construção e renovação das mentes ao redor, com sólidas pontes, e grandes possibilidades.

Basta soltar, e moldar por sí próprio...