sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Vicarius



Toda pessoa que sofre,
é um mártir do nosso prazer
Não finjamos que não,
tendo consciência do que é ser

O sangue do inferno
adoça os frutos do céu
Do crime da existência
somos todos um só réu

Cada sopro de vida
é a morte do verbo proferido
Um corte no tempo
e no espaço do corpo sentido

Cada instante é provar
do sexo da entropia
Beijo vampírico da morte
no sangue vicia

Das grandes narrativas
se tiram nada mais
do que períodos
de um prolongado
fim

Num recorte de tempo
Enquadrado momento
de como se dá
essa troca
enfim

Ato de sobreviver
apenas ossos do ofício

Esse tão belo,
vívido e pleno

sacrifício

.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

(Co|A)mplexo

Embrace - Emily Burtner


meu coração dissimulado
implode
com medo de te assustar
com sua intensidade

no desencontro de nossas línguas
troco palavras
desvio versos

de eufemismo em eufemismo
alivio o peso da sensação que me causa
a cada verbo, uma pausa

digo que te achei legal
te chamo apenas de fofa
falo de forte interesse
intensa curiosidade

convenço que só quero te ver
simplesmente nos conhecer
somente sentir teu corpo

então disfarço
que ao seu toque
me desfaço

te olho nos olhos e fica claro
não enganamos ninguém
a não ser nós mesmos

e nesse conto de realidade
assumimos não existir
essa química que nos deixa perdidos
sem graças na troca de sorrisos

negando

que cada longo segundo daquele abraço
não é nada de mais
apesar de ser justamente a vontade
de não largar jamais

.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Pôr do sol entre as montanhas, à beira do abismo - Rafael Levi

o terrível desejo alheio
de futuros impossíveis
e passados inexistentes
memórias de momentos prefeitos
por mais imperfeitos que foram
se é que foram momentos

não é o abismo
é você
não adianta esperar
que o infinito vá te olhar
enquanto os grãos morrem
um por um

se mordendo de expectativa
os dentes da engrenagem
giram sem se alinhar
tal qual lava secando
sem nunca encontrar a água
amores líquidos
de metal derretido

mecanismos perfeitos
jamais montados
acumulam ferrugem e teias
exigência da imperfeição
corroendo o não natural
barro disforme ultrajado
consumidor de sonhos


criação anímica humana

terra levará as ilusões construídas
para as profundezas da incerteza
de onde brotam
quaisquer sonhos

afinal

.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O universo numa casca de nós



cá estamos
abismo do medo
estrelado na beleza do cosmo
cortado por pontes
de promessas nunca feitas

com o sopro do vento
recebemos diversos sinais do destino
para não temer tal precipício assassino

constantemente esquecemos de nossas asas
talvez por conta das quedas
e das penas cortadas

ficamos nos olhando
pois não podemos ver a nós mesmos

qualquer risco é cego
qualquer tentativa um risco
e qualquer olhar uma tentativa

sabemos bem,
talvez por pura intuição
que entre nós
rapidamente
tudo mudaria de proporção

somos filhos da lua
sendo fácil perceber em nós o vosso brilho
mas nossa carne é feita de passado
e nossa alma de futuros perdidos

não é química, chega a ser física quântica
só de experimentar alteraria seu significado
é um estar; não estando
o infinito da brevidade de um segundo
lapso momentâneo de intensa eternidade

de tanta perfeição
não provamos nem um laço
ao menos pudesse
sentir teu abraço

esqueça a irreconciliável leveza
somos seres pesados
procuramos pesos grandes demais
para se carregar planando

por mais que nosso horizonte
seja bem desenhado
e nosso panorama
linearmente plano

de pés no chão
e cabeça nas nuvens

com solidez almejando o imperecível
somos seres de outro nível de façanha
de coração suave e breve
tal qual uma montanha

.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Talvez



na incerteza o ar me esvai
uma vez mais
desconhecidas intenções
desejos e pulsões
habitando ainda uma tolice
a esperança
sentindo o vento do inverno
e o frio no coração
me desperta a vontade
um querer ser mais forte
olhos de tigre
presas afiadas
uma vez mais em mata fechada
entre presa e predador
não era para ser um jogo
grita com pureza
a fragilidade
algo dentro de mim
ou o barulho na mata
dois lobos se encaram
o conflito existe?
dentro ou fora?
qualquer ruído se intensifica
no silêncio

.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Appenas



Vejo possibilidades
no pequeno espelho negro
na palma de minha mão
Ou talvez
ilusões perdidas
de saudosos futuros
Dos quais já sinto
saudades

...