quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Persinette



Jogando para o lado começo a terapia de desapego
O corte é corajoso, apesar de tímido para o que desejo
Começo cortando as laterais, tirando aos poucos
Abro mão da completude da forma por igual
Deixo um respiro para aliviar com o vento fresco
E já me esqueço dos fios soltos que caem ao chão
Memórias distantes as quais não quero mais

Quantos anos não viram as pontas de meu cabelo?
Acompanharam uma longa parte de minha vida
Hoje tão compridos se tornam um grande peso
E tu, que o admiraste como se aceitasse a meu passado
Com seus dedos a alisar com admiração a minha história
Sem se importar com as pontas duplas ou falta de brilho
Dissera que o queria tão longo quanto nosso amor

Mantenho o corte por um tempo, mas não basta
Ainda me sobre muito de você em cada fio
Afronto seu amor por meus longos cachos
Corto a identidade do que um dia eu fora, para você
Suavemente me liberto das milhares de finas correntes
Desprendo-me da ideia de que um dia gostaste de mim
Rompo os vínculos com decorrido destino

Sem arrependimentos posso sentir de volta
A leveza do mundo esquecer e pelo mundo ser esquecida
Me desfazendo em sutis linhas negras em tênue queda
Posso sentir melhor o vento, e respirar mais tranquila
Por muito tempo engoli suas desculpas cabeludas
De fio em fio eu formei um bezoar que descreve nosso amor
Um emaranhado de desentendimentos internalizados a incomodar

Mas não mais, se foi ao vento e até mesmo o chão já se faz limpo
Mas nem se crescesse de novo, tudo estará renovado
Não há mais pontas soltas nessa história
Nem longos fios enosados
Não há mais você
Nem nós
Jamais

Nenhum comentário:

Postar um comentário