domingo, 8 de dezembro de 2013

Zero



No escuro abissal do éter espacial uma figura dantesca de proporções titânicas queimava feito uma estrela demoníaca.

Para meu total terror, preso naquele breu infinito sem conseguir sair do lugar, pude perceber que a odiosa presença possuía o que pareciam ser olhos; apesar de a sensação que tive é de que eram cavidades ocas. Seus olhos de buracos-negros transmitiam uma perversidade tétrica e o descomunal corpo celeste me fitava concentrado, o que gerou em meu âmago o maior dos horrores que um ser humano é capaz de sentir.
Girando em movimento perpétuo, lento e contínuo, esperava pela morte enquanto o temível astro mantinha as cavidades oculares obscuras em minha direção, e uma certeza crescia cada vez mais: de que estava a me encarar. Se fazia presente uma sensação de aproximamento sutil, quase impossível de notar.

Levaria uma vida inteira até que tal profana existência me puxasse com sua inexorável gravidade, o que demonstrava o quão longe encontrava-me do maligno titã espacial. Ainda assim seria uma questão de tempo até que fosse devorado por suas chamas negro-púrpuras oscilantes, formadas por fusões nucleares incessantes. Tal ser emanava toda sorte de sentimentos e sensações negativas, como um orbe formado de todo o mal universal concentrado em um único ponto blasfemo.
Sou incapaz de quantificar a quanto tempo me encontro perdido em meio ao vácuo, e sequer lembro como aqui vim parar. Poderiam ser anos, décadas, séculos, eras, éons; não consigo definir. Talvez a massa do objeto possua propriedades que o façam distorcer mais o tempo do que o espaço, senão já teria sido puxado feito um marinheiro preso a uma âncora em direção as profundezas do mar.

É possível que seja tudo um sonho, só isso explicaria. Esse era meu norte na tentativa de me manter são, enquanto as estrelas mantinham seu movimento constante na abóboda giratória. Por vezes tinha a sensação de estar parado e o universo que na verdade se mantinha em movimento a minha volta.
O frio sideral despertou ideias jamais desejadas antes, subitamente me peguei a pensar que não seria de todo mal ser engolido por tal ente herege. Ao olhar diretamente em seus ímpios olhos vazios me senti desfazer em camadas. Traje, pele, carne, ossos e alma separados pela velocidade do movimento no qual me encontrava em direção ao globo em brasa. Em resposta aos meus pensamentos, anunciando sua consciência viva, a entidade passou a exercer uma força misteriosa de atração sobre meu corpo, de tal forma que pude sentir algo como vento, mesmo não existindo ar a minha volta.

Ao me aproximar do centro da esfera sobrenatural, me senti desfazer, enquanto minha mente explodia em uma epifania de pseudo-memórias de outras vidas e existências, se mesclando e montando uma espécie de quebra-cabeças feito de fotos. Para então todas serem queimadas por um fogo negro que aliviou meus pensamentos, limpou minha memória, desfez minhas ideias, desfragmentou minha personalidade e anulou minha existência...

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